Quem nunca recebeu aquela camisola repetida, o livro que já leu, ou o perfume que lhe faz dores de cabeça? Provavelmente, alguns de vocês já passaram por este tipo de situações. Felizmente, na maioria dos casos, os presentes vêm com talão de oferta e basta ” dar um pulinho à loja” para trocá-los por algo que realmente nos faça falta. Geralmente, quando as pessoas oferecem presentes, têm o cuidado de juntar o talão de oferta, “just in case”. Se temos o cuidado de garantir que quem recebe os nossos presentes vai achá-los úteis e adequados, porque razão não pensamos duas vezes quando enviamos bens em género para países afetados por crises humanitárias? É importante ter em conta que, por vezes, os bens que enviamos nem sempre são os que fazem falta às populações e estas não têm sequer a hipótese de os trocar. Já alguma vez ouviram falar de “doações em espécie não solicitadas”? Hoje convidamo-vos a refletir sobre estes “presentes indesejados sem talão de troca” e as suas consequências.
Somos empáticos e é normal termos o instinto de querer ajudar pessoas que estão a sofrer. Contudo, apesar de pensarmos que estamos a ajudar, na verdade podemos estar a prejudicar as missões de alívio de sofrimento levadas a cabo por ONGs. Neste texto, explicamos como as doações em espécie não solicitadas podem prejudicar as missões de ajuda humanitária, ao invés de ajudá-las.
As doações em espécie não solicitadas, também conhecidas como doações espontâneas, referem-se à prática de indivíduos ou organizações doarem bens ou serviços a uma comunidade afetada por um desastre sem serem especificamente solicitados a fazê-lo por uma organização responsável. Embora doações em espécie não solicitadas sejam bem-intencionadas, estas podem representar vários desafios no contexto de uma catástrofe humanitária:
1. Desafios logísticos: Doações não solicitadas podem ser difíceis de gerir logisticamente, uma vez que podem chegar em grandes quantidades e sem aviso prévio. Isso sobrecarrega os recursos das organizações humanitárias, que têm dificuldade em receber, armazenar e distribuir as doações de forma organizada e eficaz.
2. Falta de coordenação: Doações não solicitadas podem causar problemas se não forem coordenadas com os esforços de várias organizações que trabalham na área afetada. Isso pode levar à duplicação de esforços, entropia e competição por recursos
3. Doações inapropriadas ou inadequadas: As doações não solicitadas podem nem sempre corresponder às necessidades da população afetada e, às vezes, podem até ser prejudiciais. Por exemplo, doações de alimentos fora do prazo ou facilmente degradáveis podem causar problemas de saúde; e doações de roupas inadequadas ao clima local (algo que acontece recorrentemente) têm enormes impactos a nível logístico, como por exemplo a sobrelotação de armazéns e desperdício de recursos humanos na organização dos mesmos. Quando não existe espaço de todo, os produtos doados chegam mesmo a ser queimados ao ar livre, tendo repercussões ambientais e de saúde pública
4. Deslocação de recursos locais: Qualquer doação requer mobilização de recursos materiais e humanos disponíveis localmente. Tal, pode prejudicar as economias locais e interromper as cadeias de abastecimento
No geral, as doações em espécie não solicitadas podem ser difíceis de gerir e coordenar em contexto de catástrofe humanitária. Assim, na maior parte dos casos, é preferível
fazer doações monetárias para organizações fidedignas que se encarregarão de gerir as suas finanças consoante as necessidades das populações que apoiam, agindo de forma mais eficiente e, consequentemente, aliviando o sofrimento de mais pessoas.
Lembrem-se de que é melhor dar pouca quantidade do que criar desafios logísticos e económicos😊
Who has never received that repeated sweater, the book you’ve already read, or the perfume that gives you headaches as a gift? Probably, some of you have been through this kind of situation. Fortunately, in most cases, the gifts come with a gift certificate, and all you have to do is go to the store to exchange them for something you need. Generally, when people offer gifts, they are careful to enclose the gift certificate, just in case. If we are careful to ensure that those who receive our gifts will find them useful and appropriate, why don’t we think twice when sending goods in kind to countries affected by humanitarian crises? It is important to bear in mind that, sometimes, the goods we send are not always what people need and they do not even have the chance to exchange them. Have you ever heard of “unsolicited in-kind donations”? Today we invite you to reflect on these “unwanted gifts without a receipt” and their consequences.
We are empathetic and it is normal to have the instinct to want to help people who are suffering. However, although we think we are helping, we may actually be harming the suffering relief missions carried out by NGOs. In this text, we explain how unsolicited in-kind donations can harm, rather than help, humanitarian aid missions.
Unsolicited in-kind donations, also known as spontaneous donations, refer to the practice of individuals or organizations donating goods or services to a disaster-affected community without being specifically asked to do so by a responsible organization. While unsolicited in-kind donations are well-intentioned, they can pose several challenges in the context of a humanitarian catastrophe:
- Logistical Challenges: Unsolicited donations can be difficult to manage logistically, as they can arrive in large quantities and without notice. These strains the resources of humanitarian organizations, which find it difficult to receive, store and distribute donations in an organized and effective way.
- Lack of Coordination: Unsolicited donations can cause problems if they are not coordinated with the efforts of various organizations working in the affected area. This can lead to duplication of effort, entropy, and competition for resources.
- Inappropriate or Inappropriate Donations: Unsolicited donations may not always match the needs of the affected population and can sometimes even be harmful. For example, outdated or easily degraded food donations can cause health problems; and donations of clothes inappropriate for the local climate (something that happens recurrently) have enormous impacts at a logistical level, such as overcrowding warehouses and wasting human resources in organizing them. When there is no space at all, donated products are even burned in the open air, with environmental and public health repercussions.
- Displacement of local resources: Any donation requires mobilization of locally available material and human resources. This can harm local economies and disrupt supply chains.
Overall, unsolicited in-kind donations can be difficult to manage and coordinate in the context of a humanitarian disaster. Therefore, in most cases, it is preferable to make monetary donations to reliable organizations, which will manage their finances according to the needs of the populations they support, acting more efficiently and, consequently, alleviating the suffering of more people.
Remember that it is better to give little money than to create logistical and economic challenges. 😊